da assessoria de imprensa da Prefeitura de Jundiaí
Em agosto de 2004, o jovem Ally Pierre tinha 15 anos. Idade suficiente para que ele preserve na memória, até hoje, o dia em que seu país natal, o Haiti, literalmente parou após a invasão brasileira na capital Porto Príncipe. O exército verde e amarelo, na ocasião, não precisou dar um disparo sequer para que grupos locais e rivais silenciassem as armas por um momento, em plena guerra civil que assolava o país.
À frente do batalhão brazuca estavam soldados de peso como Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo, Roberto Carlos e outros astros do futebol brasileiro. O dia em que a bala perdeu para a bola ficou na história do Haiti. Não poderia ser diferente com Ally, que se encantou com a alegria do futebol em meio à tristeza de um dos países mais pobres e violentos da América.
Uma década depois, o amor pelo futebol motivou Ally, então com 25 anos, a sair do Haiti. Naquele momento, o país tentava juntar e colar os cacos de mais um terremoto de grande escala. Foi a gota d’água para que ele deixasse a mãe e a mulher no retrovisor de um ônibus. Tinha destino certo: São Paulo. Ally queria acompanhar a Copa do Mundo naquele que, um dia, já foi chamado de “o país do futebol”. Metade do dinheiro que tinha foi gasto na viagem. A outra metade foi levada por pessoas que cobravam altas cifras para ensiná-lo algumas palavras em português. Em plena capital paulista, Ally não conseguiu driblar a malandragem.
Resultado: ficou sem o dinheiro de volta. Após um curto período em São Paulo, veio para Jundiaí, em busca de emprego, oportunidade e dignidade. Aqui, encontrou solidariedade em pessoas e entidades dispostas a ajudar. Após um ano na cidade, conseguiu trazer sua mulher, Wilda. O filho do casal, de 4 meses, tem nacionalidade brasileira.
Ally era umas das pessoas que circulavam pelo Posto de Atendimento ao Trabalhador (PAT), na manhã desta quarta-feira (22). O jovem, que fala francês, espanhol e crioulo, arranha o português com bastante dificuldade. Além dele, outras 9 mil pessoas na cidade, segundo último censo do IBGE de 2010, são analfabetas, o que dificulta, e muito, a contratação para qualquer posto de trabalho.
“Nós sentimos muito isso aqui no PAT. Além das pessoas da cidade que não tiveram a oportunidade de estudar, temos uma procura significativa de estrangeiros, principalmente haitianos, que buscam uma chance na região por meio do Posto”, constatou Maria Aparecida Gibrail, coordenadora do órgão.
Mas essa realidade começou a ganhar novos contornos em 2014, quando o programa federal Brasil Alfabetizado foi instituído em Jundiaí. Somente no ano passado, 500 pessoas se formaram pela iniciativa, que funciona como um preparatório para a Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Neste ano, o objetivo da Secretaria de Educação é aumentar de 25 para 35 o número de salas de aula espalhadas pela cidade. As inscrições para novos alunos já estão abertas, e, por meio de uma parceria inédita, podem ser feitas também via PAT. O intercâmbio foi tema de um encontro, que além de Maria Aparecida, reuniu a gestora e coordenadora do programa Brasil Alfabetizado em Jundiaí, Solange Longui e Janaina Ceratti, respectivamente, na sede do PAT.
“Além das escolas municipais, as inscrições agora poderão ser feitas aqui. O PAT também vai ajudar na divulgação do Brasil Alfabetizado, o que vai nos ajudar bastante”, garantiram Solange e Janaina. O processo, elas explicam, ainda aguarda autorização do Ministério da Educação (MEC) para início das atividades. As aulas estão previstas para começar em maio.
Será o primeiro passo de uma longa jornada que aguarda por Ally. Mesmo não tendo concluído o ensino fundamental em solo haitiano, ele mostra disposição para fazer aquele que tem tudo para ser o gol mais importante da sua vida.
Para mais informações sobre o Brasil alfabetizado, os telefones são 4588-5326 ou 4588-5320.