da assessoria de imprensa
Pesquisa revela que estudantes com bom desempenho na escola tem mais sucesso no mercado; especialista afirma que a escola no Brasil precisa ser repensada
Todo mundo já deve ter ouvido a famosa frase: “você precisa estudar para ser alguém na vida”. Provavelmente, isso dito na infância. Enquanto alguns atendiam ao conselho, outros pareciam nem se importar, o que se refletia nos, não menos famosos, boletins escolares. Notas vermelhas ou azuis? Para alguns, essa diferença não era suficiente. Eles queriam estar sempre no topo e se esforçavam muito para isso. A “turminha da fileira da frente” não via outra possibilidade de avaliação a não ser as notas 9 e 10. E tudo isso adiantou?
Segundo um estudo realizado pela Fundação Itaú Social, sim. O levantamento apontou que, após cinco anos da conclusão do ensino médio, estudantes que tiveram notas 10% superiores de proficiência em português, por exemplo, passaram a ganhar 5% a mais no mercado. Já para os alunos que sempre se destacaram em matemática, a recompensa salarial foi de 4,6% superior aos demais.
A Psicóloga e professora de Gestão de Recursos Humanos da IBE-FGV, Eline Rasera, afirma que o estudo representa um estímulo positivo aos jovens que veem a escola como uma alavanca para obterem crescimento. “Como a pesquisa demonstra que o aumento na nota significa melhor salário, esta passa a ser um dos principais motivadores. Aqueles que querem uma profissão, fazer carreira e serem bem sucedidos, tendem a buscar modelos para atingir essa meta. Portanto, é bastante provável que esse padrão seja copiado. E isso é uma boa notícia, pois, excluindo os “gênios”, que são minoria, a grande maioria necessita de disciplina, bons hábitos e foco no aprendizado para atingir o objetivo.
A especialista avalia que o estudo mostra uma realidade que vai além do esforço do estudante nas salas de aula. Segunda ela, essa é também uma ótima oportunidade para se investir no ensino educacional básico. “Se bons profissionais se formam desde a escola, é preciso oferecer melhores condições para atender e dar espaço aos jovens. É necessário não somente ampliar os prédios ou exigir dos pais a frequência do filho nas aulas, mas também rever metodologias, grades curriculares, atualizar o conteúdo e investir em desenvolvimento dos professores”, aponta.
Segundo a Fundação Itaú Social, esse é o primeiro estudo no Brasil que relaciona o impacto do desempenho escolar à remuneração no mercado de trabalho. Além do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), o estudo foi feito a partir de dados do Censo Demográfico de 2010 e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) com as gerações nascidas em 1977-1978 e 1987-1988.
Deficiências na escola e no mercado
O papel da escola na vida de futuros profissionais também vai além das notas de matemática e português e alcança competências básicas, como relacionamento e comunicação, entre outras. A deficiência na formação emocional das crianças pode refletir de forma negativa quando elas se tornam adultas e precisam assumir responsabilidades nas empresas ou mesmo em suas empreitadas pessoais.
Um estudo organizado pelo Project Management Institute Brasil (PMI) constatou que, para 76% das empresas, o principal motivo para seus projetos fracassarem são falhas na comunicação. Segundo a pesquisa, bons projetos surgem, mas seus idealizadores não sabem escrever, falar e se relacionar adequadamente com diferentes tipos de pessoas para convencê-las de que aquela é uma boa iniciativa.
Segundo Eline Rasera, essas características são avaliadas no momento da entrevista para uma vaga de emprego, assim como para promoções, e são imprescindíveis para o sucesso profissional. Para ela, a escola tem papel fundamental na formação de um profissional, tendo em vista que as informações recebidas na infância irão influenciar toda a vida da pessoa. “Forma-se um padrão mental a partir das informações, aprendizados e experiências, o que que servirá como guia para as futuras atitudes. Portanto, quanto melhores forem essas informações armazenadas em nosso cérebro, melhor será o resultado das nossas ações”, afirma.
“No Brasil, as escolas privadas apresentam melhores resultados, pois investem mais em modelos didáticos modernos, professores e recursos que atendem o desenvolvimento das crianças, o que resulta, em geral, no melhor preparo dos indivíduos. Em países de primeiro mundo, a formação vai além, com atividades esportivas, música e outras iniciativas que auxiliam na formação de diversos aspectos da criança. Este é o melhor modelo, aquele que apresenta uma educação sistêmica, que promove o desenvolvimento mental, físico e psicológico de uma pessoa”, destaca.
Se no sistema público os alunos não encontram a formação adequada para o futuro, as escolas privadas também não são a única opção de aprendizado. As parcerias entre organizações público/privadas e as iniciativas de Fundações e ONGs têm sido uma boa alternativa para preencher a lacuna deixada pelo governo. Em Santa Bárbara d’Oeste, os projetos de educação integrada mantidos e oferecidos de forma gratuita à população pela Fundação Romi são um bom exemplo de educação sistêmica de qualidade.
A Fundação mantém dois projetos de formação: o CEDIN (Centro de Vivências do Desenvolvimento Infantil) e o NEI (Núcleo de Educação Integrada). Nos dois modelos, os objetivos são focados em promover a autonomia, o senso de responsabilidade e a convivência em grupo. No primeiro, as crianças de quatro a cinco anos ficam em tempo integral na escola. Os alunos são estimulados a serem protagonistas na construção do conhecimento, alguém capaz de expressar desejos, vontades, conflitos e a sede em descobrir e interpretar o mundo. No segundo, oferecido para crianças do 6º ao 9º ano do ensino fundamental, a educação é oferecida em período integral e vai além do período em que o estudante permanece na escola. Com uma filosofia participativa, o trabalho é desenvolvido em grupos, nos quais os participantes resolvem desafios nas diferentes áreas do conhecimento.
“O nosso projeto pedagógico privilegia o aprendizado de forma prazerosa, através de atividades que se integram e desenvolvem o conhecimento de forma ampla, do concreto ao abstrato emocional. Educamos para a formação completa do jovem, de forma que ele desenvolva competências para saber pesquisar, fazer, ter raciocínio lógico, trabalhar coletivamente, ter disciplina e, também, saber articular o conhecimento com a prática de outros saberes”, destaca a coordenadora pedagógica da Fundação Romi, Luciana Bueno Bruscagin.
A especialista Eline Rasera reforça que, para que o Brasil tenha bons profissionais para liderar bons projetos no futuro, é preciso repensar o modelo de educação atual. “A base escolar faz uma enorme diferença na preparação da carreira e infelizmente o ensino público no Brasil, desde a pré-escola, está aquém dessa necessidade”, pontua.