COLUNISTAS

Autor: Thiane Ávila

Então é Natal?

24/12/2017 - Jundiaí - SP

Seja Natal, Páscoa, carnaval ou Ano Novo. Seja só mais um dia de sentido, uma vontade de rever alguém que andava sumido, que ganhe força para ser concretizado. Ainda que seja apenas uma saudade sem nome, ou a velha rotina de uma falta que consome, que possa agora ser curada. Com cura de adeus ou com resoluções bem arquitetadas, que a gente consiga trazer a palavra o mais bem explicada, de modo que os corações apaziguem e que quem merece permaneça - não esqueça que as reconfigurações podem estar no último bolo da cereja.

Que a gente se permita andar pela contramão, dizendo sem orgulho o que nos comove e nos traz ânsia por perdão. Sensibilizar os corações com a paz de quem é tranquilo com a própria consciência, transmutando em rebeldia qualquer cerimônia de quem acha que comanda a festa inteira. O tempo é pó e já andamos em laços tão líquidos - tenta de vez em quando pensar que alguém pode ter mudado o que era no início -, dando chances às ressignificações que só quem se abre ao novo é capaz de provocar. Fazer novas leituras de antigas bulas que antes pareciam curar, a fim de perceber que o veneno é dosagem do que parece valer. As pessoas são codinomes daquilo que podemos nos espelhar para crescer. Se apaixonando também pelas decepções como um novo modo de delinqüir - as pessoas nem sempre surgem só para nos fazer sorrir.

Te recomendo experimentar novas concepções, entendendo que as existências sempre interferem em nossas predileções. Esse ano me aproximei de quem acho que combina comigo, emancipei velhos preconceitos e permiti viver novos inícios. Entendi que os tempos mudam e que as sintonias fazem valer, seja para andar comigo, brincar em tempos de cinismo ou fazer o simples prevalecer. Promova novos encontros, reconfigure o que parece estar pronto e destaque as máximas dos detalhes - cada ser em si guarda um mundo inteiro que vale.

Que a gente exercite a memória dos sentidos, lembrando que a permanência não precisa ser um eterno auge de início, mas que as noções podem ser realocadas. Sinto pena de quem acha que o que merece atenção é apenas o que desestabiliza e logo se perde entre tanta tralha - daquelas que acumulamos no comodismo de não alimentar, entrando no embalo das gerações que não têm paciência de apostar. Que o novo ano traga a consistência nos corações do que entrou em nossa vida para permanecer - 2017 foi um ano lindo para me autoconhecer. Ano de pessoas únicas que reabasteceram meu espírito, capazes hoje de me aninharem com a força única que me faz sentir a mesma leveza de um carinho lá no íntimo.

Que a gente se sobressaia no próprio crescimento, sentindo na pele o orgulho de ter amadurecido por fora e por dentro. Com menos cronologia e mais intensidade, que consigamos estabelecer laços e compromissos com a vida de verdade. Prezando pela empatia e cumprindo nossos desejos, que respeitEmos o próprio corpo e nos desfaçamos de vez dos velhos conceitos. Nossa existência é política e nossa contribuição é única: não esqueçamos de amarmos quem somos e fazer o bem a quem, por acidente do destino, quis compartilhar com a gente as andanças por esses caminhos de amor e de luta.

THIANE ÁVILA.